Pesquisa mostra maior variação genética do HIV em crianças e adolescentes de SP

27/10/2013 - 12h28

Camila Maciel

Repórter da Agência Brasil

São Paulo - Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) observaram uma maior variabilidade genética do vírus HIV em crianças e adolescentes do que a apontada em estudos anteriores feitos com adultos. De acordo com os pesquisadores, isso sugere que o perfil da epidemia está mudando no Brasil, o que pode ter implicações tanto na produção de diagnósticos como na definição de terapias e no desenvolvimento de vacinas. Foram colhidas amostras sanguíneas de 51 soropositivos nascidos entre 1992 e 2009 na capital paulista.

Segundo o coordenador do projeto, professor Sabri Saeed Mohamed Al Sanabani, do Instituto de Medicina Tropical da USP, existem dois tipos (1 e 2) de vírus causadores da aids. O tipo 2 é praticamente restrito ao Continente Africano. O tipo 1, que prevalece no restante do mundo, se divide em vários grupos, sendo os principais M, N, O e P. O grupo M, que causa a grande epidemia conhecida atualmente, por sua vez, possui subtipos. "Há ainda as formas recombinantes, que são a mistura genética de subtipos de vírus", explicou à Agência Brasil.

Estudo publicado em 2011 pelo mesmo grupo de cientistas mostra que o subtipo B é o mais frequente no país. Isso foi atestado com a análise de 113 amostras sanguíneas de homens soropositivos com média de idade de 31 anos e também por meio da análise do DNA viral. Mais de 80% dos pacientes estavam infectados com esse subtipo do vírus. A pesquisa mais recente feita com a faixa etária de 4 a 20 anos, por outro lado, apontou uma prevalência de apenas 52,4%.

As crianças e os adolescentes que participaram do estudo, coordenado pela professora Regina Succi, eram acompanhados pelo Centro de Atendimento da Disciplina de Infectologia Pediátrica da Unifesp. Em todos os casos, a transmissão ocorreu durante a gestação, parto ou amamentação. Quase 40% deles estavam infectados com o subtipo BF1 Mosaico, uma mistura genética dos subtipos B e F1. Outros 9,5% apresentaram o subtipo F1.

Al Sanabani destaca que esse resultado não era esperado inicialmente. "A gente pensava que fosse encontrar um tipo genético igual ao dos adultos. Fomos surpreendidos com essa alta diversidade", declarou. O pesquisador explica que essa variabilidade genética pode ser justificada pelo fato de a maior parte das mães serem de um grupo de risco, com muitos parceiros sexuais e histórico de uso de drogas. "Esses fenômenos de recombinação que, no caso das crianças, chega a 40%, é resultado dessa mistura de vírus. As mães foram infectadas, provavelmente, por mais de um vírus", declarou.

O professor explica que, quanto maior a diversidade do HIV, mais difícil será desenvolver uma única vacina para o combate à doença. Há consequências também na definição de uma terapia, já que a mutação genética pode fazer com que o vírus adquira resistência ao tratamento. Além disso, pode haver falhas no diagnóstico da doença, pois a mudança nos códigos genéticos pode levar à não identificação do vírus. "A gente precisa saber o que está circulando no nosso ambiente. Se o HIV tem capacidade de mudar ou recombinar, ele pode, inclusive, constituir outro tipo de aids", alertou.

Embora a mutação genética faça parte do ciclo de vida do vírus, um tratamento eficiente diminui bastante a carga viral no paciente e reduz o risco de transmissão. "Estamos baseando os nossos casos em crianças e adolescentes de São Paulo e sabemos que aqui há tratamento de qualidade disponível. É preciso fazer isso chegar dessa forma a outras regiões, para não agravar o problema", defendeu.

O coordenador informou que um novo estudo está em curso para caracterizar os tipos de HIV circulantes em quatro estados, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. "Por meio do sequenciamento de alta escala do genoma do HIV, vamos enxergar o vírus de ponta a ponta. É uma forma de saber quem está recombinando e quem está puro", declarou.

Edição: Davi Oliveira


Pacientes com HIV poderão ter tratamento antecipado

Está em consulta pública um protocolo de atendimento do governo que prevê tratamento contra a aids para todos os adultos que sejam diagnosticados seropositivos, independentemente do estágio da doença. A expectativa do Ministério da Saúde é que a expansão da oferta de tratamento gratuito chegue a mais 100 mil pacientes.

Foto: PACIENTES COM HIV PODERÃO TER TRATAMENTO ANTECIPADO 

Está em consulta pública um protocolo de atendimento do governo que prevê tratamento contra a aids para todos os adultos que sejam diagnosticados soropositivos, independentemente do estágio da doença. A expectativa do Ministério da Saúde é que a expansão da oferta de tratamento gratuito chegue a mais 100 mil pacientes.

O protocolo atual usado pela rede pública de saúde prevê que o tratamento seja fornecido ao paciente com aids que tiver CD4 (células de defesa do organismo) abaixo de 500 para cada milímetro cúbico de sangue. Desde o início de 2013, também podem receber o tratamento casais sorodiscordantes (aqueles em que um dos parceiros tem o vírus e o outro não), com CD4 acima de 500 células para cada milímetro cúbico de sangue, pacientes que convivem com outras doenças, como tuberculose e hepatite, e pacientes assintomáticos com CD4 menor de 500.

Com o novo protocolo, o tratamento poderá chegar a um grupo de pacientes que têm CD4 acima de 500, não apresentam os sintomas da doença e, portanto, não podem receber o tratamento gratuito conforme o protocolo vigente. Segundo o Ministério da Saúde, estudos internacionais mostram que o uso precoce de antirretrovirais reduz em 96% a taxa de transmissão do HIV.

O Ministério da Saúde estima que atualmente cerca de 700 mil pessoas vivam com HIV e aids no país, mas 150 mil não sabem que têm o vírus ou a doença. Ao todo, 313 mil recebem tratamento com medicamentos antirretrovirais gratuitos. O Brasil registra, em média, cerca de 38 mil casos de aids por ano. Desde os anos 80, quando teve início a epidemia, foram contabilizados 656 mil casos.

O diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita, destaca que a medida terá efeito benéfico especialmente sobre as populações mais vulneráveis ao HIV, entre elas homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo e pessoas que usam drogas. Ele ressalta que o Brasil será o primeiro país em desenvolvimento a adotar a política de tratamento como prevenção.

A consulta pública está aberta para contribuições da sociedade até o dia 5 de novembro. A validação das proposições recebidas e elaboração da versão final consolidada do protocolo será coordenada pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, que deve finalizar o documento no próximo mês. IN diariodolitoral 20.10.2013
O protocolo atual usado pela rede pública de saúde prevê que o tratamento seja fornecido ao paciente com aids que tiver CD4 (células de defesa do organismo) abaixo de 500 para cada milímetro cúbico de sangue. Desde o início de 2013, também podem receber o tratamento casais sorodiscordantes (aqueles em que um dos parceiros tem o vírus e o outro não), com CD4 acima de 500 células para cada milímetro cúbico de sangue, pacientes que convivem com outras doenças, como tuberculose e hepatite, e pacientes assintomáticos com CD4 menor de 500.

Com o novo protocolo, o tratamento poderá chegar a um grupo de pacientes que têm CD4 acima de 500, não apresentam os sintomas da doença e, portanto, não podem receber o tratamento gratuito conforme o protocolo vigente. Segundo o Ministério da Saúde, estudos internacionais mostram que o uso precoce de antirretrovirais reduz em 96% a taxa de transmissão do HIV.

O Ministério da Saúde estima que atualmente cerca de 700 mil pessoas vivam com HIV e aids no país, mas 150 mil não sabem que têm o vírus ou a doença. Ao todo, 313 mil recebem tratamento com medicamentos antirretrovirais gratuitos. O Brasil registra, em média, cerca de 38 mil casos de aids por ano. Desde os anos 80, quando teve início a epidemia, foram contabilizados 656 mil casos.

O diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita, destaca que a medida terá efeito benéfico especialmente sobre as populações mais vulneráveis ao HIV, entre elas homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo e pessoas que usam drogas. Ele ressalta que o Brasil será o primeiro país em desenvolvimento a adotar a política de tratamento como prevenção.

A consulta pública está aberta para contribuições da sociedade até o dia 5 de novembro. A validação das proposições recebidas e elaboração da versão final consolidada do protocolo será coordenada pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, que deve finalizar o documento no próximo mês. IN diariodolitoral 20.10.2013