Semana da Incontinência Urinária - 14 a 21 de março de 2011


• O que é a incontinência urinária?

A incontinência urinária é uma situação patológica que resulta da incapacidade em armazenar e controlar a saída da urina.

• Qual o impacto deste problema na população?

Calcula-se que mais de 60 milhões de pessoas sejam afectadas por esta patologia em todo o mundo. As mulheres são mais afectadas que os homens, entre duas a cinco vezes, podendo a prevalência nestas variar de 14 a 45% consoante os autores, sendo mais elevada na pós-menopausa.

Os idosos são o grupo etário mais atingido, podendo mesmo encontrar-se uma prevalência de 90% de incontinentes nos lares de terceira idade e casas de repouso. Cerca de 5 a 9% das crianças na Europa vivem este problema e no mundo a enurese nocturna (incontinência urinária durante a noite) atinge 10% de crianças e 1% de jovens com mais de 16 anos.

• Qual é o impacto desta situação?

O convívio com os familiares, parceiro sexual, colegas de trabalho e amigos é inibido pelo medo de perda de urina involuntária, o que acaba por limitar e condicionar muito a vida do incontinente, que se sente diminuído. A preocupação em esconder o problema fá-lo evitar a sua abordagem com o médico, optando pelo uso de fraldas e o desenvolvimento de estratagemas, como o transporte de mudas de roupa suplementares ou o reconhecimento prévio das instalações sanitárias a que poderá recorrer quando sai do seu ambiente.

• Como funciona o processo de controlo das micções?

A bexiga normal pode acumular volumes de urina relativamente grandes. A continência urinária depende de um reservatório adaptável (bexiga) e um esfíncter (músculo que envolve a uretra e que assegura a sua oclusão ou abertura) eficaz que tem 2 componentes: o músculo liso involuntário do colo da bexiga e o músculo-esquelético voluntário do esfíncter externo, na saída para a uretra (que transporta a urina para o exterior).
Mas, a capacidade de reter urina e manter a continência também depende do sistema nervoso e da capacidade física e psicológica da pessoa para reconhecer e responder apropriadamente à vontade de urinar. Esta capacidade atinge-se cerca dos 2 anos, por um processo de aprendizagem e treino social. Assim, o processo de micção envolve duas fases:

– 1ª fase de enchimento e armazenamento - a bexiga começa a encher com urina proveniente do rim e a distender-se para acomodar o crescente volume de urina. Quando a urina atinge cerca de 200 ml surge a sensação de necessidade de urinar. No geral, uma pessoa consegue reter 350-550 ml de urina. A integridade do músculo da parede da bexiga e do esfíncter são essenciais.
– 2ª fase de esvaziamento - requer que o músculo da parede vesical (detrusor) contraia adequadamente para forçar a urina a sair da bexiga e o esfíncter relaxe para deixar passar a urina para o exterior.

• O que determina a ocorrência da incontinência urinária?
 
Os factores de risco associados à incontinência urinária são múltiplos e incluem:

– Imobilidade associada a doenças crónicas degenerativas;

– Capacidades mentais diminuídas e demência;

– Medicamentos (por ex. diuréticos, anti-histamínicos, antipsicóticos, sedativos hipnóticos,

analgésicos opióides, agonistas e antagonistas alfa-adrenérgicos, inibidores da enzima

de conversão da angiotensina);

– Consumo de tabaco e álcool;

– Baixa ingestão de líquidos;

– Diabetes;

– Acidente vascular cerebral;

– Carência de estrogéneos;

– Fraqueza dos músculos pélvicos;

– Gravidez, parto vaginal e episiotomia (incisão feita no períneo para impedir que este

rasgue e facilitar a passagem do feto);

– Obesidade;

– Bronquite crónica, asma;

– Cirurgia prostática ou pélvica;

– Prolapso (descida de um orgão) da bexiga, uretra ou do recto;

– Infecções urinárias.
 
• Quais são os tipos de incontinência urinária?
 
A incontinência urinária pode ser dividida em dois grandes grupos principais: incontinência de esforço e incontinência de imperiosidade. O primeiro caso – mais prevalecente em mulheres acima dos 45 anos – decorre da fragilidade dos músculos pélvicos que suportam a bexiga e a uretra. Em circunstâncias de maior esforço, como tossir, saltar, correr, espirrar e levantar pesos, a pressão abdominal aumenta a uretra que sem apoio pélvico, perde a força e deixa escapar a urina.

Nos homens este problema pode derivar da prostatectomia radical (utilizado para tratamento do cancro da próstata). Como a próstata se encontra numa situação anatómica crítica (entre a bexiga e o esfíncter), a cirurgia pode danificar o esfíncter, provocando uma situação de incontinência de esforço.
 
No segundo caso, incontinência por urgência ou imperiosidade, como o próprio nome indica, resulta da vontade súbita e incontrolável de urinar. Este tipo de incontinência pode estar relacionado com o envelhecimento e o avanço da idade, mas também surge em idades mais jovens, associado a doenças neurológicas ou muitas vezes sem causas identificáveis.

O quadro de imperiosidade (urgência) da incontinência urinária é uma situação dramática, na medida em que condiciona o dia-a-dia das pessoas. Há doentes que se mantêm sempre atentos ao local onde há uma casa de banho e outros que, devido à aflição, traçam um roteiro dos sanitários por onde vão passar.

• Como se diagnostica a incontinência urinária?

Para se definir o diagnóstico de incontinência urinária é necessário determinar o tipo de incontinência e a sua repercussão, de forma a melhor orientar o tratamento. Assim, o médico necessitará de:

– Avaliar os sinais e sintomas do doente, como acontece a perda de urina e em que circunstâncias. A realização de um diário das micções pelo doente poderá ser muito útil, deverá incluir os horários das micções e dos episódios de incontinência, suas circunstâncias (de dia/noite, com esforço) e características (com ou sem dor ou ardor, fluxo urinário normal ou "às pinguinhas").
– Realizar um exame físico, incluindo exame ginecológico e toque rectal para excluir fístulas, anomalias neurológicas e bexiga distendida. Pode ser pedido ao doente para realizar o stress test urinário, que consiste em pedir a este para tossir de pé e com a bexiga cheia, para verificar se há perda de urina.
– Solicitar exames complementares de diagnóstico para melhor caracterização da incontinência.

O doente que apresenta queixas de incontinência urinária poderá dirigir-se ao seu médico de família, para fazer a investigação inicial do problema. Caso este se confirme, deverá ser orientado para um médico urologista ou ginecologista (no caso das mulheres) que também se dedique a esta área.

• É possível prevenir a incontinência urinária?

É possível agir sobre alguns dos factores predisponentes para a incontinência urinária, em particular nas mulheres como sejam os estilos de vida, o nível de actividade física, hábitos tabágicos, obesidade e ingestão de líquidos, hábitos de esvaziamento da bexiga ou do intestino, ingestão de irritantes como álcool, bebidas gaseificadas, chocolate, café.

Outros factores como a menopausa, as doenças pulmonares, as infecções e a medicação poderão contribuir para esta situação, pelo que o seu controle é indispensável. Os pacientes idosos e com doenças crónicas degenerativas necessitam de uma maior atenção também. O parto vaginal, a cirurgia e a radiação pélvica são reconhecidos como factores desencadeantes, pelo que deverão alertar para o possível desenvolvimento de incontinência com eventual necessidade de uma abordagem precoce.

Existem factores predisponentes como os genéticos ou alterações por doenças neurológicas ou da anatomia pélvica não passíveis de prevenção.

• Quais os tratamentos disponíveis para a incontinência urinária?

A percentagem de doentes que recorre ao médico por problemas de incontinência comparada com a percentagem dos que se auto-medicam ou auto-protegem é de apenas 10%, o que é grave, visto que hoje dispomos de armas terapêuticas capazes de curar ou controlar a maior parte das situações. Por este motivo, os doentes devem procurar ajuda e perceber que a incontinência urinária corresponde a uma situação clínica com tratamento, sobretudo se abordada na fase inicial.

O tratamento cirúrgico desempenha um papel preponderante na incontinência urinária de esforço, tanto na mulher, como no homem. A cura da incontinência urinária de esforço é possível em cerca de 90% dos casos.

Na incontinência urinária por imperiosidade a taxa de sucesso dos antimuscarínicos (tratamento de primeira linha, cuja acção estabiliza o músculo vesical – o detrusor - inibindo a sua contracção involuntária) situa-se nos 80%.

As alterações comportamentais necessárias, principalmente na incontinência por imperiosidade, passam por um controlo da ingestão de líquidos, a exclusão de alimentos excitantes para a bexiga, como por exemplo a cafeína, a micção temporizada ou a micção diferida, consoante a gravidade da doença e a autonomia do doente.

• Uma herança pesada

A incontinência urinária, sobretudo na mulher, é um grave problema cultural. Como a mãe e a avó também sofreram da mesma doença, assume-se a incontinência urinária como uma herança. O factor familiar expõe a ideia de que é algo natural e, por isso, deve ser encarado como um fardo. Assim a mulher vai protelando a solução e tenta adaptar o seu dia-a-dia, até ao ponto em que começa a estar atada e condicionada por esta situação.

Como se trata de um assunto que toca a intimidade da pessoa, a incontinência urinária ainda é encarada como um tabu que condiciona a vida do doente a vários níveis: pessoal, familiar, social e laboral.

Este problema pode conduzir a uma fuga do contacto social e ao isolamento, porque está sempre presente o medo e a vergonha de que os outros sintam o cheiro. Pode afectar também a relação conjugal, uma vez que a intimidade do casal é prejudicada. 

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