Ministério da Saúde promove estudos junto de populações mais vulneráveis à infeção VIH

Dados oficiais referem que a transmissão da infeção através de relações sexuais em homens que têm sexo com homens (HSH) atinge, atualmente, mais de 20% do total de casos notificados nos últimos anos.

Em entrevista à agência Lusa, o diretor do Programa Nacional para a Infeção VIH/sida avançou que vão ser realizados estudos de "natureza comportamental", em parceria com instituições académicas e universitárias, para tentar "perceber o que está por detrás deste ressurgimento da transmissão da infeção nos homens que têm sexo com homens".

Os estudos vão avançar "rapidamente" para "ter respostas ainda no próximo ano" e se poder "traçar, alterar ou adaptar estratégias que têm a ver fundamentalmente com a prevenção", disse António Diniz, a propósito dos "30 anos do VIH/sida em Portugal" e do Dia Mundial de Luta contra a Sida, que se assinala no domingo.

"Precisamos saber porque é que estas pessoas se voltaram a infetar e isso implica sabermos que pessoas são, como é que elas encaram a infeção VIH e de que forma é que a adquiriram para podermos traçar essas estratégias, quer seja de prevenção, quer seja de diagnóstico", explicou.

Traçando o retrato da epidemia em Portugal, António Diniz afirmou que já "não tem as mesmas características" que tinha há uma década.

Há 10 anos, em mais de metade dos casos notificados a transmissão fazia-se através da utilização de drogas injetáveis partilhadas, atualmente 85% da transmissão é efetuada por via sexual, exemplificou.

O relatório sobre a situação do VIH/sida em Portugal em 2012, faz uma análise entre 2005 e 2011 que permite observar uma redução de 79% do número de casos relacionados com o consumo de drogas e um decréscimo de 21% nos associados à transmissão heterossexual, enquanto a transmissão homossexual aumentou 33%.


Em 2012 verificou-se que a transmissão associada ao consumo de droga corresponde a 10% dos casos, 24% a relações homossexuais e 63% a relações heterossexuais.

"No grupo dos homens que fazem sexo com homens essa percentagem tem vindo a aumentar e mesmo o valor absoluto de casos não tem conseguido diminuir", disse António Diniz. 

Também tem crescido o peso das populações imigrantes no conjunto da infeção VIH em Portugal, nomeadamente nos distritos de Lisboa, Setúbal e Faro.

"Na região de Lisboa, mais de um terço dos casos notificados em 2009, que é o último ano em que conseguimos ter dados já com alguma robustez e consistência, ocorreram em pessoas de nacionalidade estrangeira", exemplificou.

Esta é "outra realidade" a que é necessário estar atento para se poder "saber qual é a melhor forma de atingir essas populações no sentido de terem aconselhamento, seguimento e tratamento mais adequado", mas também para impedir que a infeção se transmita nessas comunidades e na população nacional.

Estas duas populações são consideradas das mais vulneráveis à infeção, "não só pelos comportamentos que podem adotar, mas também, muitas vezes, pela dificuldade ou resistência ao acesso aos cuidados de saúde e à entrada no sistema de saúde".

António Diniz salientou ainda a diminuição na última década do número de novos casos de infeção, de sida e do número de mortes.

Mas, considerou, não é motivo para se estar "completamente satisfeito", porque Portugal continua numa posição de "alguma fragilidade" no contexto europeu, ocupando os últimos lugares nas taxas de novos casos de sida e de infeção por VIH.

"Isto significa que temos de trabalhar mais, mais depressa e melhor para conseguirmos colocar-nos numa posição mais favorável nesse contexto europeu".

A Direção-Geral de Saúde apresenta hoje o "Relatório Portugal Infeção VIH/sida em Números

Fonte: MSN Notícias 30.11.2013

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